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Os pais dão beijinhos na boca. Que nojo!

Os pais dão beijinhos na boca. Que nojo!

A importância de demonstrar carinho em frente às crianças.

Na semana em que se comemora o Dia dos Namorados, onde o cupido faz das suas e atinge os casais adultos com as setas do amor, surgem novas formas de celebração para os mais pequenos. Fala-se do amor que une os amigos, do carinho, da atenção e aceitação do outro. Escrevem-se cartas de amizade e brincam-se com os afetos. Mas são também eles, as crianças e os adolescentes, que não desperdiçam a oportunidade de comentar sobre o amor dos namorados “a sério”: do pedido de namoro, de casamento, do “sim, gosto de ti por amor”, do toque, dos abraços e dos beijinhos. E quando se fala dos beijinhos e alguém deixa escapar “os meus pais dão beijinhos na boca” … ui… surgem os sorrisos baixinhos, mãos em frente à cara, toques de cotovelo para com quem está ao lado, rostos corados da vergonha e um dramático “que nojo!”.

E que bom que assim seja! Entenda-se bom, os pais se beijarem e se sentirem à vontade de o fazer em frente aos filhos e, assim, estes terem a oportunidade de testemunhar tais momentos. São estes, assuntos sobre o cupido e as suas artimanhas, recorrentes nas escolas, nos intervalos, nas atividades, nas festas, nas conversas de amigos. E que bom que assim o é! É assim que crescem e desenvolvem a sua capacidade de pensar sobre o mundo, interior e exterior, e é assim também, com o grupo de pares, que as crianças e adolescentes se sentem mais compreendidos e validados. Na verdade, quase todos, sentem o mesmo, na mesma altura, sobre as mesmas coisas, e isso faz com que haja um processo de identificação maior. E se por um lado, a ideia de os namorados se beijarem é tão bem aceite, por outro, os beijinhos dos pais causam vergonha e timidez como se a sexualidade entre eles não existisse. Todos passamos por isto!

Mas, caros pais, não deixem de se beijar, de se abraçarem ou cumprimentarem quando chegam ou saem de casa (não esquecendo a contenção necessária a uma maior intimidade sexual que deve sempre ser reservada apenas ao casal). Este carinho simples, orgânico e que deve fazer parte da rotina, é essencial para que os filhos, quando crescerem, consigam relacionar-se de forma saudável com os seus companheiros. Afinal, precisam de aprender como se faz!

Também não há problema em alguns adultos se sentirem pouco à vontade em fazê-lo. Se os gestos não forem autênticos e sinceros eles percebem e, por isso, deixam de fazer sentido. Usar um tom de voz mais carinhoso, esperar que o outro chegue a casa para jantar, conversar sobre o seu dia, sorrirem juntos, olharem cumplicemente para o outro, passar a mão no cabelo, por exemplo, são atitudes que podem valer mais do que um simples toque de lábios ou abraço forçado.

  Sendo a forma mais eficaz de se educar através do exemplo, importa reforçar que a escolha de companheiro de vida também se ensina e, consequentemente, se aprende. Todos precisamos de referências de carinho, respeito e de saber como se deve tratar quem está ao lado. A maneira como o casal cuida um do outro está diretamente relacionado com a forma como os seus filhos irão respeitar-se e respeitar o outro nas suas relações futuras. Assim, pais que se amam e demonstram o que sentem, fazem com que os filhos:

* se sintam mais seguros: percecionam que o relacionamento é sério, sincero e que pertencem àquela relação, sentindo maior segurança e apoio. As crianças respondem emocionalmente ao ambiente em que vivem.

* acreditem que estar em relação é bom: numa época em que as relações são cada vezes mais complexas, é em casa que devem perceber que amar e ser amado é possível e positivo. Não se ensina, por palavras, que o amor é bom. Ou se mostra que é ou então não somos capazes de fazer acreditar.

* desmistifiquem a ideia de prisão na relação: às vezes parece que viver em casal é sinónimo de perda de liberdade e de menor valorização do outro. Ser pai e mãe não significa deixar de ser namorado/a e terem liberdade de se comportarem como tal, sem medo que o compromisso seja algo pesado, chato e que retira luminosidade à pessoa.

* desenvolvam uma sexualidade mais saudável: pais carinhosos e respeitosos entre si ensinam aos filhos a importância de demonstrar o amor aos outros e, acima, de tudo, que devem procurar companheiros de vida que os tratem bem e que percebam a importância do toque e proximidade nas relações amorosas. Com mais ou menos beijinhos, mais ou menos abraços, mais ou menos frases como “amo-te” e “gosto de ti”, é preciso que os filhos cresçam num lar onde os pais (ou outros educadores) se relacionam bem e onde se sintam protegidos e respeitados. Para as crianças, o mundo é a casa deles. E é da responsabilidade de quem educa mostrar o melhor e/ou pior dos mundos. Que seja mais vezes o melhor, mesmo em dias mais cinzentos e com cada vez menos beijinhos.

Ana Peixoto

Psicóloga Educacional

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