Mesmo no momento de maior irritação há frases proibidas!
Qualquer pai e mãe está sujeito a “perder a cabeça” num ou noutro momento em que o seu filho adota um comportamento desadequado, quando desafia as regras e os limites, quando não cumpre as orientações e não se comporta de acordo com o que o adulto pretende.
O ideal seria que, qualquer conflito que surja em ambiente familiar, se resolva com calma e serenidade, mas também sabemos que, sendo os pais humanos, vão reagir e agir, por vezes, de forma mais descontrolada e com menos filtros. Não obstante, é de extrema importância que se mantenha a consciência de que algumas frases não devem ser ditas, nem no pior dos momentos. Não deverá existir irritação tal que justifique o recurso a tais expressões. Primeiro, porque apenas cumprem o efeito de ofender a integridade e moralidade da criança, diminuindo a sua autoestima. Segundo, porque magoando e ofendendo, a criança ficará centrada nessa dor e perderá a capacidade de perceber e interiorizar o motivo pelo qual não deve repetir aquele mesmo comportamento. Terceiro, porque não correspondem à verdade.
Algumas destas frases, listadas abaixo, revelam, acima de tudo, que o adulto está descontrolado, sem mais argumentos e sem recursos para agir de uma outra forma. Se os pais conseguirem interiorizar, quando estão calmos e tranquilos, que há palavras que devem ser evitadas quando estão sob tensão e conflito, estarão mais capazes de o fazer.
Uma boa estratégia a usar imediatamente antes de dizer algo impulsivamente é responder mentalmente ao seguinte: “será que é mesmo verdade o que estou a dizer?”. Se não for… vale a pena guardar para si. É apenas um momento e, como todos os momentos, serão passageiros!
Assim, STOP e respire antes de soltar:
Fizeste isto?! Não gosto mais de ti!
Será que é mesmo verdade que exista alguma coisa que o seu filho possa fazer, e que o faça deixar de gostar dele? É importante não confundir que não gostar do comportamento da criança é muito diferente de não gostar da própria criança. O verdadeiro amor nunca é condicionado. E o que sente pelo seu filho não depende, em nada, do que ele possa fazer.
És sempre a mesma coisa, não fazes nada de jeito!
Será que é mesmo verdade que o seu filho não faz nada de jeito? Tudo o que ele faz, é sempre mau e errado? Com toda a certeza que não! Em bom rigor, o erro não existe. Existe, sim, aprendizagem e será importante aproveitar o momento do erro para ensinar melhor. E se continuadamente ele persistir, vale a pena pensar na forma como está a ensinar.
Eu faço tudo por ti e é assim que me agradeces?!
Será que é mesmo verdade que os filhos têm de agradecer aos pais por estes cumprirem a sua função da melhor forma que conseguem? E usar isso como chantagem emocional faz com que a criança consiga refletir melhor sobre o seu papel? Educar só para obedecer e agradecer pelo que se tem direito, e não se escolheu, é meio caminho andado para que a criança sinta que não pode discordar das escolhas dos pais, mesmo quando não lhe faça sentido ou porque simplesmente a razão pela qual não está a cumprir algo nada tem que ver com ingratidão. Seria mais fácil se os filhos dissessem sim a tudo, o problema seria quando eles crescessem e não conseguissem dizer não a nada!
Podias ser como o… teu irmão, amigo, vizinho…!
Será que é mesmo verdade que gostaria que o seu filho fosse igual a outro? Com tudo o que o outro tem e é? O seu filho é único e, de certeza, o melhor do mundo (dir-lhe-á isto outras inúmeras vezes). As comparações devem ser evitadas pois nunca seremos o outro e por isso a frase só irá destruir o que de melhor todos têm: a sua individualidade.
Estás a portar-te mal, vais ficar aqui sozinho!
Será que é mesmo verdade que vai deixar o seu filho sozinho, mesmo que ele se porte de forma desadequada? Este tipo de frases fazem com que a criança se sinta insegura e que um dia pode mesmo ficar sozinha e sentir-se abandonada por quem ela mais confia.
Tu pões-me doente!
Será que é mesmo verdade que o seu filho, a pessoa que mais ama, o põe doente? A culpa é das emoções mais fortes e que mais marcas, emocionalmente negativas, deixam no desenvolvimento do ser humano. A criança sentir-se-á perdida numa culpa que não consegue remediar.
És mesmo burro!
Será que é mesmo verdade que, de repente, o seu filho se transformou num animal? Ofender e caraterizar a situação com recurso a humilhação e comparações não só é profundamente humilhante, como bloqueia totalmente a criança.
Homem não chora! Assim a chorar, pareces um bebé!
Será que é mesmo verdade que o choro tem género? E será que é mesmo verdade que só os bebés choram? Um dia, em crescidos, estamos todos a dizer uns aos outros: “chora, porque chorar faz bem e alivia a alma!”
Se nenhuma destas frases corrigem comportamentos, ajudam a um saudável desenvolvimento emocional da criança nem a faz sentir protegida e amada… STOP e respire: há muito mais a dizer ao seu filho!
Ana Peixoto – Psicóloga Educacional